31 de Março, 2025

Luto e Organização: Como lidar com os bens de quem partiu

Lidar com a perda de um familiar ou amigo próximo é uma das experiências mais duras da vida. O luto chega com um peso emocional profundo, e com ele, uma série de tarefas práticas que, inevitavelmente, precisam de atenção. Uma das mais difíceis, e frequentemente evitada, é a triagem e seleção dos bens da pessoa que partiu. Não é por acaso que já vi e tive conhecimento de várias casas fechadas e inutilizadas durante anos, continuando os familiares num processo de evitamento constante.

Este processo, aparentemente logístico, está repleto de emoções: memórias, dúvidas, culpas e saudades. Por isso, deve ser encarado com a sensibilidade e o respeito que merece.

 

Quando começar?

Não existe um tempo certo.

É comum ouvir conselhos como “deve arrumar logo tudo” ou “espera mais um tempo”. No entanto, no luto não existem regras inquebráveis. Cada pessoa tem o seu próprio ritmo e todos eles são válidos.

Alguns sentem necessidade de arrumar e organizar poucos dias após a perda, como forma de lidar com o choque e encontrar alguma ordem no caos. No entanto é preciso alguma sensibilidade para estas situações, pois frequentemente, quando o processo é realizado demasiado cedo, surge mais tarde o arrependimento pela triagem efetuada. Outros só conseguem encarar esse momento muitos meses, ou até anos, depois. E tal como já referi, há quem, por várias razões, nunca o consiga fazer sozinho.

É fundamental respeitar o tempo e os limites emocionais de cada um. Ninguém deve sentir-se culpado por adiar ou por querer avançar com este processo. No entanto, se a acumulação dos objetos se torna uma fonte contínua de angústia ou bloqueio, pode ser um sinal de que está na altura de procurar apoio — emocional, familiar ou até profissional.

 

Por onde começar?

Uma sugestão prática é iniciar o processo pelos itens que não carregam grande peso emocional: alimentos perecíveis, medicamentos vencidos, papéis antigos, objetos sem valor simbólico. Estas pequenas ações podem funcionar como uma introdução mais leve a uma tarefa que, inevitavelmente, se tornará mais emotiva.

À medida que o processo avança, surgem decisões mais difíceis: o que fazer com a roupa? E com os objetos pessoais, os livros, as fotografias, os presentes que ofereceu?

Aqui, não há regras fixas. Pode optar por guardar o que mais significado tem, doar o que possa ser útil a outros ou até transformar certos objetos em algo simbólico, como uma almofada feita a partir de uma camisa especial ou um álbum com fotos e cartas.

 

Culpas, dúvidas e o papel de quem ajuda

É muito comum surgir um sentimento de culpa ao desfazer-se dos bens de quem partiu. Como se deitar fora um objeto fosse, de certa forma, apagar uma memória. Mas é importante lembrar: os objetos não são a pessoa. O amor, os momentos partilhados, as memórias — esses permanecem.

Se estiver a ajudar alguém neste processo, tenha em mente que o mais importante não é “resolver a arrumação”, mas estar presente. O ideal é que este processo seja feito com alguém de confiança, que saiba escutar, acolher as emoções e ajustar o ritmo consoante as necessidades da pessoa enlutada. Às vezes, mais do que ajudar a organizar, é preciso simplesmente estar ao lado, em silêncio, oferecendo um ombro seguro.

 

Uma tarefa emocional, mais do que prática

Fazer a triagem dos bens de quem partiu é, acima de tudo, um processo de despedida. É reviver memórias, enfrentar silêncios e, aos poucos, deixar ir. E isso não acontece de uma vez. Pode haver pausas, retrocessos, lágrimas e até riso — porque muitas memórias, apesar da dor, trazem também amor e alegria.

Vestir esta tarefa de racionalidade quando o coração está feito em cacos é algo que poucos conseguem fazer sozinhos. E está tudo bem. O mais importante é lembrar-se de que esta etapa, por mais difícil que seja, pode também ser uma forma de homenagem. Um passo, ainda que doloroso, no caminho da cura.

 

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31 de Março, 2025

Organização dos Espaços: Um Aliado na Saúde Mental

Cada vez mais se ouve falar em saúde mental e cada vez existem mais pessoas a procurar ajuda profissional quando se veem próximas de um cenário de desgaste, stress ou burnout. Este movimento é, felizmente, cada vez mais normalizado — e é fundamental que assim continue.

No entanto, existem fatores que influenciam fortemente este tipo de quadros e que ainda passam despercebidos à grande maioria da população. Um deles, que muitas vezes é negligenciado, é a organização dos espaços.

Antes de mais, importa esclarecer: não estou, de forma alguma, a insinuar que uma depressão se cura com a organização da casa. No entanto, acredito profundamente que um espaço mais organizado pode ser uma peça importante no processo de recuperação, especialmente quando conjugado com acompanhamento psicológico, médico ou outras medidas.

Basta uma pesquisa rápida para encontrar estudos, artigos (por ex. no National Geographic Portugal) e até livros dedicados ao tema. Um espaço organizado tem impacto direto no nosso estado emocional: aumenta a sensação de bem-estar, felicidade e segurança. Ajuda a ter mais foco e concentração, permite uma melhoria do humor e das relações sociais, interfere com os hábitos alimentares e de exercício físico, aumenta a autoestima, facilita a tomada de decisões e reduz significativamente os níveis de ansiedade.

 

A casa como reflexo do interior

Vivemos rodeados de estímulos. Entre a pressão profissional, a gestão da família e a correria do dia a dia, a casa deveria ser o nosso lugar de abrigo, mas muitas vezes, é mais um ponto de stress: desorganizada, caótica e cheia de tarefas pendentes.

A verdade é que o estado da casa e o nosso estado emocional estão intimamente ligados. Quando sentimos que tudo à nossa volta está desorganizado, também é comum sentirmo-nos sobrecarregados, desmotivados ou sem energia. Pelo contrário, quando o espaço está mais leve, limpo e funcional, há uma sensação de clareza mental que se instala naturalmente.

Apesar de a organização não substituir terapia ou apoio médico, pode ser um apoio valioso para criar uma sensação de controlo e estabilidade – algo tão importante em momentos de maior fragilidade emocional. Além disso, contribui para uma rotina mais previsível, que pode fazer toda a diferença no dia a dia.

 

O impacto em cada divisão da casa

Cada área da casa tem o seu papel na nossa vida emocional:

– A sala interfere diretamente na dinâmica familiar e nas relações entre os membros da casa. Um espaço confortável e funcional favorece a convivência, a conversa e até momentos de descanso mais eficazes.

– O quarto influencia diretamente a qualidade do sono. Um quarto desorganizado ou cheio de estímulos visuais pode dificultar o adormecer e afetar a qualidade do descanso.

– A cozinha está ligada aos hábitos alimentares e à segurança na preparação dos alimentos. Uma cozinha caótica pode tornar a tarefa de cozinhar mais stressante e menos saudável.

– As casas de banho interferem com o nível de autocuidado. Um espaço limpo, funcional e organizado pode facilitar os rituais de cuidado pessoal e bem-estar.

– O escritório ou espaço de trabalho afeta o foco, a produtividade e a motivação para realizar tarefas.

Nenhuma divisão deve ser ignorada. Todas elas têm o seu impacto, direto ou indireto, no nosso equilíbrio emocional.

 

Então, por que vivemos no meio do caos?

Se a organização tem um impacto tão positivo, porque é que tantas pessoas continuam a viver em ambientes desorganizados?

A resposta não é simples, mas existem três grandes fatores que contribuem para este cenário:

  1. Falta de tempo, energia e motivação:

Antigamente, era comum a mulher dedicar-se exclusivamente à gestão da casa. Hoje, isso já não é a norma (e ainda bem!), mas isso também significa que ninguém tem “tempo a mais”. Os dias são preenchidos com compromissos, obrigações e eventos, e a organização da casa vai ficando sempre para depois.

  1. Consumo excessivo e impulsivo:

Vivemos numa era de promoções, saldos e marketing constante. É fácil acumular roupas, artigos de cozinha, brinquedos, e gadgets, porque tudo está acessível e a preços baixos. Mas este acúmulo leva a uma sobrecarga visual e física que rapidamente se transforma em desorganização.

  1. Dificuldade no desapego emocional:

Para muitas pessoas, deitar fora um objeto não é apenas uma ação prática, é um processo emocional. Há peças ligadas a memórias, fases da vida, pessoas ou momentos que já não voltam. E este desapego pode ser mesmo difícil, especialmente quando existem traumas ou perdas associadas.

 

Por onde começar?

Organizar uma casa inteira pode parecer uma missão impossível. E quando estamos num estado emocional mais frágil, essa sensação ainda se agrava. Mas a boa notícia é: não precisas fazer tudo de uma vez!

Aqui ficam algumas sugestões práticas:

– Começa por uma pequena zona, como uma gaveta ou uma prateleira. O importante é criar um ponto de arranque.

– Estabelece um limite de tempo: 15 ou 30 minutos de cada vez. Pequenas ações consistentes têm mais impacto do que grandes maratonas que não se repetem.

–  Usa categorias simples: o que fica, o que vai, o que pode ser doado.

– Reflete sempre sobre a funcionalidade: este objeto está a servir o meu dia a dia ou está apenas a ocupar espaço?

– Não tenhas medo de pedir ajuda! Seja de um familiar, amiga ou de uma profissional.

 

A organização não é um fim, é um meio

Para concluir, organizar não é sobre ter uma casa digna de revista. É sobre criar um ambiente que te acolhe, que te apoia, que trabalha a teu favor e não contra ti.

Nos momentos em que a saúde mental está mais frágil, cada pequeno gesto de cuidado conta. E sim, arrumar um armário ou destralhar uma prateleira pode ser um desses gestos. Se sentes que precisas de um ponto de partida ou de alguém que te guie neste processo, posso ajudar.

 

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31 de Março, 2025

O peso invisível que tantas mulheres carregam. Como podemos começar a libertar-nos?

Brevemente irei dar uma palestra dedicada a mães empreendedoras, e por esse motivo, escolhi este tema para abrir o meu blogue. Acredito que precisamos, urgentemente, de falar sobre ele!

Cada vez mais mulheres se encontram no limite. Empreendem, trabalham fora de casa, são mães, companheiras, filhas, gestoras do lar, da agenda, da alimentação da família, da saúde dos outros. Cuidam do seu corpo, da sua mente (ou, pelo menos, tentam!) num dia que continua a ter apenas 24 horas.

Mesmo quando a sociedade já não exige explicitamente que a mulher seja “tudo para todos”, muitas de nós continuam a sentir, internamente, essa obrigação. Está profundamente enraizado. Fomos educadas para dar conta de tudo, para não falhar, para manter tudo impecável. E o resultado? Exaustão. Ansiedade. Culpa. Autoexigência. E uma sensação constante de que estamos sempre em falta com alguma coisa, ou com alguém.

Mas deixa-me dizer-te isto com toda a clareza: não é suposto fazeres tudo sozinha.

Não és menos capaz por delegar. Não és menos dedicada por precisares de pausas. E definitivamente não és menos mãe, empreendedora ou mulher por admitires que precisas de ajuda.

 

Por onde começar? Algumas ações simples que podem fazer diferença:

  1. Faz uma pausa real e observa. Que áreas da tua vida estão a gritar por atenção? Há algo que estás a segurar apenas porque “sempre fizeste assim”?
  2. Escreve tudo o que estás a gerir. Só o ato de pôr no papel pode fazer-te perceber o quanto estás a carregar mentalmente.
  3. Define prioridades realistas. O que é urgente? O que é importante? E o que simplesmente pode esperar, ou ser entregue a outra pessoa?
  4. Cria pequenas rotinas de alívio. 5 minutos por dia para respirar fundo, organizar um canto da casa, ou simplesmente desligar o telemóvel pode ser mais transformador do que parece.
  5. Pede ajuda sem culpa. À família, a profissionais, a amigas. Precisar de apoio é sinal de sabedoria, não de falha.

 

Em relação à organização da casa, também importa salientar que devemos fazer uma triagem do que se consome nas redes sociais. Uma casa organizada não é um museu, impessoal e minimalista, ou onde mal nos podemos mexer. O mais importante é que os espaços sejam funcionais e acolhedores, prontos para serem vividos.

Além disso, organizar a casa, o tempo e os processos não é um fim em si. É uma ferramenta para ganhares espaço mental, emocional e físico. Com os meus serviços posso ajudar-te a retomar o controlo da tua vida através da organização, de forma simples, prática e sem julgamentos.

Se sentes que estás a chegar ao teu limite, mas não sabes por onde começar, posso ajudar-te. Faço este caminho contigo, utilizando estratégias que respeitam a tua realidade, e com um plano que te devolve o tempo que sentes que perdeste.

E se estás apenas a começar a questionar o “modo automático” em que tantas de nós vivemos, já deste um passo gigante.

Estou aqui para o que precisares.

 

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