Organização dos Espaços e a Saúde Mental

31 de Março, 2025

Organização dos Espaços: Um Aliado na Saúde Mental

Cada vez mais se ouve falar em saúde mental e cada vez existem mais pessoas a procurar ajuda profissional quando se veem próximas de um cenário de desgaste, stress ou burnout. Este movimento é, felizmente, cada vez mais normalizado — e é fundamental que assim continue.

No entanto, existem fatores que influenciam fortemente este tipo de quadros e que ainda passam despercebidos à grande maioria da população. Um deles, que muitas vezes é negligenciado, é a organização dos espaços.

Antes de mais, importa esclarecer: não estou, de forma alguma, a insinuar que uma depressão se cura com a organização da casa. No entanto, acredito profundamente que um espaço mais organizado pode ser uma peça importante no processo de recuperação, especialmente quando conjugado com acompanhamento psicológico, médico ou outras medidas.

Basta uma pesquisa rápida para encontrar estudos, artigos (por ex. no National Geographic Portugal) e até livros dedicados ao tema. Um espaço organizado tem impacto direto no nosso estado emocional: aumenta a sensação de bem-estar, felicidade e segurança. Ajuda a ter mais foco e concentração, permite uma melhoria do humor e das relações sociais, interfere com os hábitos alimentares e de exercício físico, aumenta a autoestima, facilita a tomada de decisões e reduz significativamente os níveis de ansiedade.

 

A casa como reflexo do interior

Vivemos rodeados de estímulos. Entre a pressão profissional, a gestão da família e a correria do dia a dia, a casa deveria ser o nosso lugar de abrigo, mas muitas vezes, é mais um ponto de stress: desorganizada, caótica e cheia de tarefas pendentes.

A verdade é que o estado da casa e o nosso estado emocional estão intimamente ligados. Quando sentimos que tudo à nossa volta está desorganizado, também é comum sentirmo-nos sobrecarregados, desmotivados ou sem energia. Pelo contrário, quando o espaço está mais leve, limpo e funcional, há uma sensação de clareza mental que se instala naturalmente.

Apesar de a organização não substituir terapia ou apoio médico, pode ser um apoio valioso para criar uma sensação de controlo e estabilidade – algo tão importante em momentos de maior fragilidade emocional. Além disso, contribui para uma rotina mais previsível, que pode fazer toda a diferença no dia a dia.

 

O impacto em cada divisão da casa

Cada área da casa tem o seu papel na nossa vida emocional:

– A sala interfere diretamente na dinâmica familiar e nas relações entre os membros da casa. Um espaço confortável e funcional favorece a convivência, a conversa e até momentos de descanso mais eficazes.

– O quarto influencia diretamente a qualidade do sono. Um quarto desorganizado ou cheio de estímulos visuais pode dificultar o adormecer e afetar a qualidade do descanso.

– A cozinha está ligada aos hábitos alimentares e à segurança na preparação dos alimentos. Uma cozinha caótica pode tornar a tarefa de cozinhar mais stressante e menos saudável.

– As casas de banho interferem com o nível de autocuidado. Um espaço limpo, funcional e organizado pode facilitar os rituais de cuidado pessoal e bem-estar.

– O escritório ou espaço de trabalho afeta o foco, a produtividade e a motivação para realizar tarefas.

Nenhuma divisão deve ser ignorada. Todas elas têm o seu impacto, direto ou indireto, no nosso equilíbrio emocional.

 

Então, por que vivemos no meio do caos?

Se a organização tem um impacto tão positivo, porque é que tantas pessoas continuam a viver em ambientes desorganizados?

A resposta não é simples, mas existem três grandes fatores que contribuem para este cenário:

  1. Falta de tempo, energia e motivação:

Antigamente, era comum a mulher dedicar-se exclusivamente à gestão da casa. Hoje, isso já não é a norma (e ainda bem!), mas isso também significa que ninguém tem “tempo a mais”. Os dias são preenchidos com compromissos, obrigações e eventos, e a organização da casa vai ficando sempre para depois.

  1. Consumo excessivo e impulsivo:

Vivemos numa era de promoções, saldos e marketing constante. É fácil acumular roupas, artigos de cozinha, brinquedos, e gadgets, porque tudo está acessível e a preços baixos. Mas este acúmulo leva a uma sobrecarga visual e física que rapidamente se transforma em desorganização.

  1. Dificuldade no desapego emocional:

Para muitas pessoas, deitar fora um objeto não é apenas uma ação prática, é um processo emocional. Há peças ligadas a memórias, fases da vida, pessoas ou momentos que já não voltam. E este desapego pode ser mesmo difícil, especialmente quando existem traumas ou perdas associadas.

 

Por onde começar?

Organizar uma casa inteira pode parecer uma missão impossível. E quando estamos num estado emocional mais frágil, essa sensação ainda se agrava. Mas a boa notícia é: não precisas fazer tudo de uma vez!

Aqui ficam algumas sugestões práticas:

– Começa por uma pequena zona, como uma gaveta ou uma prateleira. O importante é criar um ponto de arranque.

– Estabelece um limite de tempo: 15 ou 30 minutos de cada vez. Pequenas ações consistentes têm mais impacto do que grandes maratonas que não se repetem.

–  Usa categorias simples: o que fica, o que vai, o que pode ser doado.

– Reflete sempre sobre a funcionalidade: este objeto está a servir o meu dia a dia ou está apenas a ocupar espaço?

– Não tenhas medo de pedir ajuda! Seja de um familiar, amiga ou de uma profissional.

 

A organização não é um fim, é um meio

Para concluir, organizar não é sobre ter uma casa digna de revista. É sobre criar um ambiente que te acolhe, que te apoia, que trabalha a teu favor e não contra ti.

Nos momentos em que a saúde mental está mais frágil, cada pequeno gesto de cuidado conta. E sim, arrumar um armário ou destralhar uma prateleira pode ser um desses gestos. Se sentes que precisas de um ponto de partida ou de alguém que te guie neste processo, posso ajudar.

 

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